O refrão ecoa e a massa explode: "Hoje é o grande dia de alegria, coração. Sinta o amor no carnaval. Vem, vai, que eu também vou". Sucesso da axé music? Longe disso. O trecho, na verdade, sintetiza bem os sambas-enredo do nosso próximo carnaval. Nele estão presentes as palavras que serão mais cantadas em 2013.
Para ficar romântico, doses exageradas de amor. A palavra é citada 14 vezes nas 10 letras do ano que vem. Apenas duas escolas – Tradição Serrana e Imperatriz do Forte – driblaram a paixão. Em partes, na verdade. Nesta última, os autores usaram a variação "amores". A contagem também desconta o afrancesado "mon amour" que a Mocidade Unida da Glória (Mug) usou.
Pega no Samba (Relicário de amor, é meu viver Orgulho paixão, meu bem querer) e Boa Vista (Paz, amor, dignidade Negro é a raiz da liberdade) escancaram o sentimento jogando o termo no refrão, em alto e bom português.
Menos apaixonadas mas tão constantes quanto estão duas palavrinhas andarilhas. Para exercer o direito de ir e vir, as variações desses verbos viraram ouro na boca dos sambistas. Por 13 vezes surge a palavra "vai". O pedido é correspondido em 12 ocasiões, com o uso do termo "vou". Para manter a união, o "vem" está lá 11 vezes (veja as palavras mais constantes na nuvem abaixo).
Sempre funcionam
O compositor Thiago Bandeira defende que a palavra amor cai bem em todo samba. "Existem algumas expressões chave que sempre funcionam. Mas elas precisam encaixar no enredo".
O também autor Gustavo Fernando concorda que alguns desses termos podem contribuir para a formação de rimas pobres nas letras. "Na hora de moldar uma letra eu e meus parceiros tentamos evitar essas expressões. Mas há momentos em que elas prevalecem, pois são termos que estão no enredo", defende.
Ele explica que um samba de sucesso precisa ter como meta principal conquistar todos os pontos dos jurados. "Se uma palavra importante no tema fica de fora, o risco é grande. A função do samba é transformar o que o carnavalesco pensou em música".
Bandeira lembra, também, que expressões de incentivo como "vai", "vem" e "vou" são usadas para agradar o público. "São termos que chamam a escola a atraem a atenção dos componentes".
Parceria tricampeã
Gustavo forma uma das parcerias que lidera uma forte tendência do carnaval capixaba: a composição de samba de várias escolas por um mesmo grupo. Só neste ano ele, Renilson Rodrigues e Leley do Cavaco assinam o samba da Imperatriz do Forte, Independentes de São Torquato e Unidos da Piedade.
Os três já colecionam mais de dez das músicas levadas ao Sambão do Povo. Desde que formaram a parceria, em 2011, o grupo só perdeu duas disputas.
Para Leley, a novidade não leva necessariamente à padronização. "Respeitamos o estilo de cada escola". Gustavo reforça: "Um samba em homenagem ao Jorge Amado, por exemplo, pode ficar completamente diferente de uma escola para outra".
E o controle de qualidade é grande. Após quatro semanas de produção, o samba precisa passar pela concordância total dos três componentes.
Novos tempos
O trabalho dos compositores não é abalado pela paixão por suas escolas do coração. Thiago Bandeira, por exemplo, foi criado na Andaraí – onde é diretor musical. Além de lá, ele também venceu a disputa na Unidos de Jucutuquara.
Ele diz que sua parceria – formada ainda pelos sambistas Dilson Marimba, Thiago Daniel e Diego Tavares – tenta minimizar o que consideram um grave defeito dos sambas capixabas: as melodias repetitivas. "Não é difícil encontrar música que se repete. A melodia é o que conquista o público", defende.
O autor pondera que o ato de compor em várias escolas não se deve a uma questão financeira. "No Rio de Janeiro, uma vitória pode render R$ 350 mil. Por aqui, não passa de R$ 5 mil. E o custo para participar é a metade disso."
Samba sem roda
Outro exemplo dos novos tempos quem dá é Gustavo: "Na hora de compor ficamos diante do computador, de cara limpa". É o fim do esteriótipo de malandro sambista que faz música sentado em um bar e regado a cerveja.
Sobre o ritmo das obras, Bandeira diz que é mais rápido por causa das escolas. "São muitas alas e muitos carros para passar. Um samba lento arrasta a escola. Ela atrasa e perde ponto."
Se ao final o processo dá samba, o público poderá conferir no próximo dia 5 de dezembro, às 20h, na Estação Porto. É quando essa sopa de palavras será apresentada a público, no lançamento do CD do carnaval 2013.
O trabalho dos compositores não é abalado pela paixão por suas escolas do coração. Thiago Bandeira, por exemplo, foi criado na Andaraí – onde é diretor musical. Além de lá, ele também venceu a disputa na Unidos de Jucutuquara.
Ele diz que sua parceria – formada ainda pelos sambistas Dilson Marimba, Thiago Daniel e Diego Tavares – tenta minimizar o que consideram um grave defeito dos sambas capixabas: as melodias repetitivas. "Não é difícil encontrar música que se repete. A melodia é o que conquista o público", defende.
O autor pondera que o ato de compor em várias escolas não se deve a uma questão financeira. "No Rio de Janeiro, uma vitória pode render R$ 350 mil. Por aqui, não passa de R$ 5 mil. E o custo para participar é a metade disso."
Samba sem roda
Outro exemplo dos novos tempos quem dá é Gustavo: "Na hora de compor ficamos diante do computador, de cara limpa". É o fim do esteriótipo de malandro sambista que faz música sentado em um bar e regado a cerveja.
Sobre o ritmo das obras, Bandeira diz que é mais rápido por causa das escolas. "São muitas alas e muitos carros para passar. Um samba lento arrasta a escola. Ela atrasa e perde ponto."
Se ao final o processo dá samba, o público poderá conferir no próximo dia 5 de dezembro, às 20h, na Estação Porto. É quando essa sopa de palavras será apresentada a público, no lançamento do CD do carnaval 2013.
Reportagem de: Frederico Goulart (fgoulart@redegazeta.com.br)
Fonte: A Gazeta