Pisciana e dona de uma deliciosa voz doce e suave, Vanessa Loyola, a cantora que além de ensinar música e amar a Bossa Nova, foi uma das atrações do Projeto Esquina da Cultura em Guarapari por duas vezes consecutivas. Completando neste ano 10 anos de carreira como cantora, Vanessa nos concedeu uma entrevista emocionada, falou sobre a sua experiência no Programa Super Star e como tem amadurecido ao longo dos anos, inclusive vencendo a timidez. Sob o lema de que o artista precisa cantar verdadeiramente o que o representa, a cantora revela que é possível viver da música ainda que os artistas encontrem dificuldades no mercado em Guarapari.
Confira abaixo a entrevista da Cantora de Voz Doce e Suave Vanessa Loyola...
Como foi a descoberta de sua veia artística para o canto?
Eu compreendi que gostava de cantar já na infância, no ambiente religioso da igreja. Eu tive aulas de piano muito cedo, aos cinco anos de idade e, durante o curso que durou um longo tempo da minha vida, aprendi a cantar, pois o canto faz parte do conteúdo do piano erudito ou popular. Profissionalmente, comecei há 10 anos. Antes, eu cantava debaixo do chuveiro (risadas) ou em rodinhas de amigos, e enquanto frequentava um restaurante na Praia do Morro chamado Dom, comecei a dar "canjas" a pedido dos amigos e um belo dia a dona do restaurante me convidou a fazer um show. Na época, apareceu o Artur, que se tornou um grande amigo e gostava de tudo o que eu gosto: MPB, Bossa Nova, Rock in Roll, Blues e Jazz e ele começou a me acompanhar. Daí pra frente, não parei mais.
Como você define o seu repertório? O que cantar ou quando cantar?
Eu seleciono a partir do perfil do evento... Quando o evento exige um repertório mais suave ou mais leve, ainda que caminhe da MPB ao Rock in Roll de forma mais sutil, com voz e violão, eu canto ao lado de Chryso Rocha. Quando o evento pede algo mais para cima, como um Pop Rock, com pegada boa para dançar, eu convido o Raony ou Juninho Vieira.
E a emoção de ver o público vibrando e cantando contigo tal como aconteceu na Segunda Edição da Esquina da Cultura?
É maravilhoso ver as pessoas felizes quando estamos no palco. É incrível a sensação de estar me sentindo querida pelas pessoas! Eu adoro estar no palco. Eu sou educadora musical há mais de 20 anos e neste ano estou completando 10 anos de carreira como cantora, mas no início eu era muito tímida e, tanto eu mesma, quanto as pessoas que me conhecem, sentimos essa enorme diferença entre aquela época e atualmente. Todavia eu sempre acho que preciso melhorar mais. Eu assisto aos meus vídeos, faço anotações dos meus erros e acertos e estou sempre buscando melhorar cada vez mais.
A fama é alguma coisa que a incomoda ou você prefere levar uma vida mais reservada a estar em evidência?
Boa pergunta... Na verdade, eu tenho uma vida social mais discreta, mais caseira. Acho que por conta da idade, me tornei um tanto reservada. Mesmo quando saio para prestigiar os meus amigos, gosto de ficar no meu cantinho. Mas, quando estou num show, por exemplo, eu estou ali inteira: não é o "meu" momento, ou momento de discrição. É o momento em que preciso dividir minha energia com as pessoas. Eu tenho consciência de que sou conhecida e que faz parte do processo cumprimentar e conversar com as pessoas, abraçar e agradecer a todos quando termina um show. Então, eu entendo que é preciso crescer dentro da minha cidade. É aqui, onde eu moro e cresci, que eu tenho que me fazer conhecer... É aqui em Guarapari que eu tenho que selecionar e conquistar o meu público para depois partir para outras cidades e outros Estados e depois outros países.
Em 2014 você participou da primeira edição do Programa Super Star, da Rede Globo a convite de Maria Fernanda, da Banda Mary Di. Como foi a primeira experiência com a fama?
Nós sentimos a reação do público da Maria Fernanda assim que chegamos, pois foi uma coisa bombástica. Muitos ficaram felizes de nos ver no Super Star, pois ninguém sabia que estávamos participando do Programa. As pessoas sondavam e comentavam muitas coisas... Na verdade, nós ficamos sem saber como lidar com toda a repercussão assim que voltamos. Tinha o lado bom de tudo isso, com comentários de pessoas carinhosas, mas também havia o lado ruim, né. Isso foi para mim um divisor de águas. Embora o projeto não fosse meu, eu vesti a camisa junto com a Fernanda e sentia tudo com ela, tanto os elogios quanto as críticas. E, foi nesse momento que refleti: "será que é isso mesmo..? Devo seguir em frente..?" Mas, logo depois as coisas se acalmaram e toda a euforia das pessoas passou. É preciso aprender a lidar com isso.
Na Esquina da Cultura você citou que tem preferência pela Bossa Nova, mas nos shows e nas suas apresentações percebe-se que você é uma cantora eclética, pois canta de tudo um pouco.
Eu canto tudo o que me representa... Tudo o que tenho de influência ou o que faz parte do meu processo de aprendizado durante a vida, ponho no meu repertório. No início da minha carreira incluía muitas coisas para tentar agradar a todo tipo de público. Mas, logo me senti cobrada por mim mesma quanto a isso... Me perguntava: "estou cantando o que eu sinto, ou o que as pessoas querem ouvir?" Ao longo dos anos, passei a selecionar o meu repertório, pois a música precisa ser interpretada de forma verdadeira. Quando você canta algo que não o representa, aquela verdade deixa de ser passada e isso compromete o resultado do trabalho. Então, fiz uma escolha: cantar as coisas que me representam: MPB, a Bossa Nova, o Jazz , o Blues e o Rock in Roll. Mas, também tenho um "pezinho" no Pop. Há outros estilos que respeito, mas as pessoas vão ao meu show sabendo o que ouvirão.
É fácil conciliar o trabalho nos palcos com a vida particular ao lado do seu companheiro?
Pergunta interessante... As pessoas indagam se o Argus e eu nos damos bem e se ele também é músico. Nós estamos juntos há sete anos e, além de ser meu noivo, ele se apaixonou pelo meu mundo, embora não seja músico. Foi isso o que aconteceu: ele veio e começou a agregar ao meu trabalho. Ele é muito compreensivo em relação a todos os aspectos da minha profissão, tanto como professora quanto cantora. O Argus é o meu braço direito e a gente se entende muito bem, estando junto sempre. E o fato dele se sentir parte do meu trabalho nos aproxima mais ainda.
Analisando esses dez anos de carreira cantando em bares e restaurantes ou casamentos, dá pra viver de música em Guarapari?
Particularmente, sempre vivi de música. Eu sou professora de música, e leciono tanto em escolas quanto em casa, pois dou aulas particulares. Atualmente estou só com as aulas particulares durante a semana e nos finais de semana faço shows e canto em casamentos. Portanto, eu vivo da música inteiramente há muito tempo. Eu vivo de forma satisfatória, mas não sei se os meus colegas diriam o mesmo... Eu costumo dizer que Guarapari tem um mercado difícil não só para os músicos, mas para os artistas em geral, devido à falta de apoio. Embora isto vem mudando, é preciso melhorar cada vez mais. Conheço alguns artistas que têm a música como segunda profissão exatamente pela falta de apoio e de espaço. Mas, eu acho que o segredo é acreditar. Quando a gente acredita que precisa estudar, ter humildade, e sempre respeitar os colegas, as coisas podem dar certo.
Temos visto em nossa cidade uma boa quantidade de pessoas despontando na música, em vários estilos (no Samba, no Pop, na MPB, no Rock ou no Country) e, na sua visão, o que falta para que os músicos de Guarapari tenham uma carreira de sucesso mais promissora?
Falta muita coisa... Principalmente apoio do poder público. Infelizmente, nossa cidade não tem demanda para um trabalho como o nosso durante o ano inteiro. Guarapari "bomba" em alguns períodos do ano e como não tem um leque maior de casas noturnas ou de shows, isto dificulta um pouco o trabalho dos músicos. Por outro lado, há também aquelas questões que já falei. Quem opta por essa profissão, precisa optá-la por amor. Eu acredito que o músico tem que amar o que está fazendo... Ele não deve cantar um estilo que não gosta somente para ganhar dinheiro. Esta é uma receita que não dá certo, apesar de muitos acreditarem que dá.
Uma coisa que é raríssima em todo o Espírito Santo é a união entre os músicos e isto é ruim para a classe inteira. Há também alguns contratantes que não facilitam, pois não levam nosso trabalho a sério. Não há uma fiscalização efetiva quanto ao couver artístico e ao cumprimento das agendas de shows. Algumas casas desmarcam os shows na última hora ou marcam duas bandas para o mesmo dia... E, isto compromete o nosso trabalho e o estímulo individual.
Por duas vezes você participou do Projeto Esquina da Cultura, promovido pela Prefeitura de Guarapari, e nas duas edições você agradou demais ao público presente e gostaríamos de saber qual será o próximo passo da cantora Vanessa Loyola? Qual seu projeto para o futuro?
Então... No ano passado participei com a Banda Soul Jazz muito feliz porque o repertório era de Blues, Jazz e Rock in Roll. Amei ter participado porque foi incrível! Fiz shows nos dois Palcos (Palcos 1 e 2) e este ano pude fazer o meu próprio show com músicas da MPB, Bossa Nova e Clássicos do Rock, ainda que não tenha dado tanta ênfase ao Rock pois queria sentir a receptividade do público. Adorei ver os meus amigos presentes, os turistas misturados no meio dos meus amigos... Achei realmente fantástico e sou muito grata por aquela noite, inclusive a você por ter me prestigiado.
Em relação ao meu futuro, tenho a pretensão de compor minhas próprias músicas, algumas que ainda não finalizei. Pretendo focar num trabalho autoral baseado nas minhas influências, desde músicas clássicas até à MPB, numa mistura bacana. Pretendo também alçar outros vôos... cantar em outros lugares e, por isso, não sei se ficarei muito tempo em Guarapari. Tenho a intenção de encerrar as aulas para me dedicar mais à minha carreira de cantora, embora as duas coisas sejam a minha paixão. Mas, se algum dia tiver que fazer uma opção, será pelo canto.
Vamos ao bate bola?
Signo: Peixes
Deus: Essencial
Família: Meu maior tesouro
Música: O que mais amo na vida
Amor: A Cura
Guarapari: Meu amor eterno.
Fotos: Arquivo pessoal e publicações na Internet