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20 de agosto de 2012

Enredo da Unidos da Piedade - Carnaval 2013

ANAUÊ, ANAUÊ... GUANAMBI AMANAJÉ

NAS TERRAS ABENÇOADAS DO ESPÍRITO SANTO!

Introdução
Reza a lenda que antes de ser descoberta, as terras onde hoje vive o encantado Beija-Flor, era um vasto território coberto por uma densa e deslumbrante floresta tropical, a Mata Atlântica. Nela habitavam os mais incríveis animais; aves de rara beleza, plantas exóticas, feras de todos os portes e pássaros encantadores. A fauna e a flora aliadas aos encantos daquela região, que era contornada por vales, emoldurada por enseadas, falésias, mangues e praias, a tornaram um paraíso, um lugar abençoado. Por esses atributos naturais e místicos, mais tarde ela seria batizada, pelos primeiros colonizadores, como Espírito Santo. Habitavam nessa região exótica, algumas tribos do tronco Tupiniquim; os Botocudos (tribo com atitudes violentas e hábitos antropofágicos), os Aimorés, os Goytacazes, entre outras.
Nosso enredo conta a fascinante historia de amor, envolvendo duas tribos inimigas. Um Romeu e Julieta Tupiniquim, com contornos mais lúdicos. Nele ouviremos a historia do Espírito Santo, contada de uma forma encantadora, pela ótica de um apaixonado Beija-Flor, hoje símbolo desse Estado, enquanto de flor em flor ele procura sua índia amada.

ENREDO
Existiam várias tribos no Espírito Santo, antes do descobrimento, umas eram pacíficas e outras hostis. Duas delas, há anos, viviam em guerra, eram inimigas mortais.
Anauê, Anauê ...Sou Tupi, sou Guarani, sou guerreiro Tupiniquim. Nasci e cresci entre matas verdejantes, das flores exóticas e exuberantes, das cachoeiras que estendem seu véu majestoso até se transformar num lago de águas cristalinas... Fui criado solto, bicho do mato, brinquei com onças pintadas, araras, colibris... corri os vales e montanhas sob a vigilância de Guaraci... meu povo era livre, minha terra sagrada e se estendia do mar as montanhas... vivíamos em comunhão com a natureza, desfrutávamos desse paraíso terrestre de riquezas naturais... tínhamos a caça, a pesca, um solo abençoado que nos brindava, como dádiva da natureza, com frutos de todos os tipos, legumes saborosos e verduras fresquinhas... meu povo vivia feliz, plantava, colhia e enquanto os guerreiros partiam para a guerra, nossas mulheres cuidavam da prole e faziam seus trabalhos manuais, nosso artesanato, herança de meu povo, que sobrevive ate os dias de hoje...e quando nossos guerreiros voltavam, vitoriosos, eram recebidos por toda a tribo com festa, e festejávamos noite a dentro, sob as bênçãos de Jaci...
...Certa vez me afastei do meu povoado perseguindo uma caça e nem percebi que tinha chegado à região inimiga, onde as águas da grande cachoeira terminavam sua queda entre as pedras, provocando uma névoa encantadora, sobre o manto majestoso de águas límpidas e tranquilas. Foi nesse momento então, que a vi, como Yara (deusa das águas), saindo dessa nuvem de gotículas, onde raios multicoloridos terminavam seus reflexos, diluídos sobre seu corpo nu. Ela tinha uma pele dourada, cabelos negros como a pantera e seu sorriso doce como favo de mel... era a visão do paraíso e naquele momento descobri que aquela era a deusa dos meus sonhos, a mulher que eu sempre sonhei... vinha caminhando em minha direção de forma tão divina, que até os últimos raios de sol sofriam por medo de lhe ferir a pele, orquídeas silvestres se jogavam sobre ela para lhe emprestar seu perfume e até os pássaros escondidos entre as folhagens ameigavam o seu canto...foi amor a primeira vista... encantados e como se tivéssemos hipnotizados, esquecemos nossa gente, nossa rivalidade e depois de muito tempo, nos amamos ali mesmo, na relva, sob o olhar preocupante do manto da noite... fizemos juras de amor e de nunca mais nos separar... e assim foi, dia após dia, nos encontrávamos as escondidas, cada vez mais apaixonados, e tínhamos a esperança de através de nosso amor, acabar de uma vez com a guerra entre nossas tribos... mas o destino foi cruel... um dia os guerreiros da tribo de minha amada a seguiram e nos encontraram em pleno êxtase... depois de me espancarem muito e pensando que eu estivesse morto, a levaram de volta à tribo... o Conselho dos Anciãos foi convocado para o julgamento de minha amada... ela era acusada de traição, já que nossas tribos estavam em guerra e eles acreditavam que ela passava segredos para mim... ela teve a sentença de morte, mas por ser muito jovem e bela, convocaram então, os Xamãs para o veredito... os Xamãs navegaram pelo céu em uma canoa que era como uma cobra de fogo, e a cobra-canoa (o arco-íris)os trouxe a esta terra sagrada. Após saberem de toda a história, da pureza, da inocência e da estonteante beleza de minha amada, resolveram como castigo, transformá-la numa linda flor...

...Eu, fui socorrido pelos guerreiros de minha tribo e sobrevivi ao espancamento e, logo que me recuperei, passei a procurar, desesperadamente, por minha amada... chamei então, os Anciãos e anunciei que iria até a outra tribo em busca de meu amor.
Eles não permitiram tremenda loucura e tentaram, de toda forma, me impedir. Afirmaram que na nossa tribo existiam lindas moças que poderiam ser boas esposas e teríamos filhos fortes e saudáveis. Mas eu estava apaixonado, irredutível e os Anciãos, vendo minha decisão e tristeza, evocaram também os Xamãs para me ajudar. Os Xamãs que já sabiam que minha bela índia havia sido transformada em flor resolveram então, me transformar num Beija-Flor. E a partir daí, saí a percorrer de um canto a outro, (por estas terras que mais tarde seria batizada de Espírito Santo) atravessando colinas, cachoeiras, mares e montanhas, e de flor em flor, procuro a índia encantada, dona do meu coração, e só quando encontrá-la o feitiço será, finalmente, quebrado.
...E foi nessa busca desesperada, que atravessei as estações, viajei por todos os cantos, sobrevivi às intempéries, e após anos e anos de busca, pude ver minha terra se transformando...
...E foi assim que eu vi...
Vi a chegada dos primeiros colonizadores batizando esse povoado de Espírito Santo e sendo bravamente combatidos pelo meu povo.
Vi a chegada do santo padre para catequizar nossa gente.
Vi a densa Mata Atlântica, aos poucos se abrindo para se tornar cidade.
Vi a chegada dos primeiros imigrantes trazendo suas culturas e construindo a historia junto com meu povo.
Vi o negro sendo açoitado covardemente e ajudando a construir a história dessa terra.
Vi o Frei transformar a em monumento.
Vi a jovem guerreira ajudar a expulsar os piratas de nossa terra.
Vi o escravo valente chefiar a insurreição e ser livre, pela fé em sua santa da montanha.
Vi o caboclo pescador ajudar a salvar a tripulação de um navio e ser condecorado pela princesa.
Vi muita gente dessa terra fazer sucesso na musica, pintura, literatura e no teatro.
Vi a emoção coroar um rei.
Vi a fé se transformar em procissão.
Vi nossas riquezas naturais e heranças de meu povo, dando identidade a essa terra.

Vi muita gente cruzando os mares para conhecer essa terra abençoada.
...Continuo buscando minha amada e sei que um dia hei de encontrá-la em alguma flor, hoje me tornei um símbolo dessa terra, desse estado que recebeu o nome divino de: Espírito Santo, e quem vive aqui herdou de minha gente o nome de CAPIXABA.


Assinado Beija-flor tupiniquim
Autor: Paulo Balbino

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